A CARNE E O SANGUE DE JESUS – JOÃO 6,41-51

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Os judeus começaram a murmurar a respeito de Jesus, porque havia dito: “Eu sou o pão que desceu do céu”. Eles comentavam: “Não é este Jesus, o filho de José? Não conhecemos seu pai e sua mãe? Como então pode dizer que desceu do céu?” Jesus respondeu: “Não murmureis entre vós. Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou não o atrai. E eu o ressuscitarei no último dia. Está escrito nos Profetas: ‘Todos serão discípulos de Deus’. Ora, todo aquele que escutou o Pai e por ele foi instruído, vem a mim. Não que alguém já tenha visto o Pai. Só aquele que vem de junto de Deus viu o Pai. Em verdade, em verdade vos digo, quem crê, possui a vida eterna. Eu sou o pão da vida. Os vossos pais comeram o maná no deserto e, no entanto, morreram. Eis aqui o pão que desce do céu: quem dele comer, nunca morrerá. Eu sou o pão vivo descido do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão que eu darei é a minha carne dada para a vida do mundo”.


O trecho do Evangelho lido na semana passada (João 6,24-35), no qual as multidões perseguiram Jesus em vários barcos, e que nos relata o desafio delas para que Jesus repetisse o milagre do maná no deserto, terminou com as seguintes palavras de Jesus: “Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não terá mais fome e o que crê em mim não terá mais sede”.

Os que o ouviram não compreenderam essas palavras misteriosas e murmuraram entre si, como que tímidos em pedir explicação a Jesus. Estavam confusos, pois o autor das palavras e do milagre da multiplicação dos pães e peixes era alguém de Nazaré cuja identidade todos conheciam. Afinal, ele era um simples homem e apenas um carpinteiro, que vivia em um vilarejo de onde ninguém sequer pensava que pudesse surgir um grande líder, não fazendo sentido ele dizer que viera do céu e que era o pão da vida.

Jesus sabia da dificuldade, e até impossibilidade, de a razão humana chegar a entender o que ele falara, e por isso respondeu aos sussurros em voz alta: “Em verdade, em verdade vos digo, quem crê, possui a vida eterna”. Estas palavras carregam uma advertência para todos nós, pois indicam que, mesmo na ignorância racional, é possível possuir a vida eterna mediante a fé nas verdades reveladas por Jesus. A fé consiste em acreditar no que não se vê e não se entende, mas no caso daquela gente havia ocorrido o milagre de que todos participaram e usufruíram, o qual também não conseguiam explicar, mas sabiam que ocorrera. Ainda assim duvidavam!

E, neste plano da fé, Jesus prosseguiu: “Eu sou o pão da vida. Os vossos pais comeram o maná no deserto e, no entanto, morreram. Eis aqui o pão que desce do céu: quem dele comer, nunca morrerá. Eu sou o pão vivo descido do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão que eu darei é a minha carne dada para a vida do mundo”.

Como os judeus se apegavam à ideia de um alimento para o corpo, lembrando sempre do maná que seus antepassados haviam recebido no deserto e do pão que haviam recebido quando do milagre da multiplicação, Jesus afirma que seu corpo é um pão que permite não se morrer para a vida eterna, um pão para a alma e não para o corpo, pois este morre, sim, mas a alma não!

E iguala seu pão à sua carne, numa alusão a que a entrega do seu corpo na cruz seria para dar vida eterna ao mundo, ao mesmo tempo em que, falando assim, antecipou a instituição da eucaristia, a partir da qual o pão se transubstancia no seu corpo, algo que a razão igualmente não alcança, mas a fé aceita sem duvidar. Este é o verdadeiro pão que traz a vida eterna!

Evidentemente, muita gente fica desconcertada quando lê esta passagem do Evangelho, e até pode achar que Jesus foi exageradamente misterioso. Mas é preciso que se lembre que, além do grande problema representado pela distância irredutível entre o transcendental e a vida terrena, a pregação do Cristo não se resumiu a este ou àquele dito, a este ou àquele acontecimento, mas foi um todo somente compreensível em sua grandeza e completude pelo conjunto do que ele fez e disse, tal como está retratado nos quatro textos evangélicos.

Para os homens do século XXI, que através do Evangelho possuem o conhecimento integral da vida do Nazareno, é possível ter melhor compreensão da que puderam ter aqueles judeus referidos por São João, mas mesmo os homens de hoje, e os de sempre, somente vão aceitar os mistérios que envolveram a vinda de Cristo a este mundo se o fizerem por obra da fé, pois o transcendental somente será conhecido e entendido plenamente após entrarem na vida eterna.

Por Dr. Ricardo Mariz de Oliveira

Categories: Evangelho Semanal

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