TENTAÇÃO DE JESUS NO DESERTO – A LUTA CONTRA O DIABO – MARCOS 1,12-15

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O Espírito levou Jesus para o deserto. E ele ficou no deserto durante quarenta dias, e ali foi tentado por Satanás. Vivia entre os animais selvagens, e os anjos o serviam. Depois que João foi preso, Jesus foi para a Galileia, pregando o Evangelho de Deus e dizendo: “O tempo já se completou e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho!”


Depois de, nos últimos domingos, termos seguido os primeiros passos da pregação de Jesus na Galileia, hoje voltamos a antes daqueles acontecimentos, isto é, a quando, depois de ser batizado por João Batista, ele se isolou no deserto para orar e jejuar.

São Marcos nos relata com muita brevidade essa passagem da vida de Jesus, sem os detalhes que encontramos em Mateus (Mt 4,1-11) e Lucas (Lc 4,1-13), mas nos diz o suficiente para sabermos da sua penitência por quarenta dias, da sua tentação e de que foi servido por anjos. Depois, Marcos nos conta também sucintamente que, após o Batista ter sido preso, Jesus dedicou-se a pregar o seu Evangelho, o que começou lá em Cafarnaum e se estendeu a outras localidades da Galileia. Ele dizia: “O tempo já se completou e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho!”

O texto fala em tentação e em Satanás, também referido em outras partes como demônio, diabo, Belzebu e outros nomes. Diabo e tentação são duas entidades ligadas indissoluvelmente, porque onde existe tentação há o demônio a induzi-la. Qualquer um sente tentações na sua vida, mas quase ninguém sente a proximidade do diabo, geralmente atribuindo a tentação a si próprio e a seus desejos, além de que muita gente não acredita que ele exista e pensa que sejam invencionices as expulsões de demônios relatadas por Marcos e pelos outros evangelistas. Dizem alguns críticos que as possessões demoníacas não passavam de doenças mentais desconhecidas à época, e que Jesus apenas as curava, do mesmo modo como também curava outras doenças do corpo.

Entretanto, desde o Gênesis a Bíblia menciona os anjos decaídos, assim como menciona a tentação de Eva para comer o fruto proibido, na qual o demônio surge na forma de uma serpente. A partir daí, os homens e as serpentes, que até então viviam em paz, tornaram-se inimigos, como o demônio não é amigo, mas inimigo de todos.

E os relatos evangélicos nos dizem que Jesus reconhecia a existência dos demônios, o que nos indica que eles realmente existem, embora sejam vistos apenas pelas consequências maléficas que produzem. Os Evangelhos mencionam tantas possessões de pessoas pelos demônios porque provavelmente a presença de Jesus os acirrasse, já que eles se dedicam sempre a confrontar Deus. Depois de Jesus, as possessões muito raramente se manifestam exteriormente, mas sempre existem através das tentações, quando a pessoa é tomada por estas e se deixa arrastar para o mal, que se apresenta apetitoso durante a tentação.

A tentação é uma manifestação demoníaca, dado que leva o homem ao pecado, e pecado é tudo o que o diabo quer pelo simples fato de se opor a Deus, pois sabe que Deus deseja que suas criaturas não pequem, e não pecar é não fazer o mal.

Enfim, este é um campo de mistério com indagações muito difíceis porque não permitem respostas seguras e comprováveis. É um campo em que a fé deve imperar, tanto quanto a fé na existência e na bondade de Deus e, no caso, a fé em Jesus e no seu Evangelho: “O tempo já se completou e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho!”.

Neste aspecto, lembremo-nos de que Jesus não condenou a tentação e até admitiu que todos pecam, mas advertiu para aqueles que conduzam outros ao pecado, que é uma situação na qual o mal predomina em altíssimo grau, pois envolve não apenas alguém que consente em pecar ele próprio, mas alguém que leva outrem a pecar, quando temos não um, mas ao menos dois pecadores e um deles agindo como se fosse um demônio, deixando-se ser instrumento dele (Mt 18,6-7). 

Diabo e tentação são inseparáveis, pois a tentação é o produto do demônio, que ordinariamente age através dela (Ef 6,12). Mas é necessário distinguir tentação de vontade e desejo, porque pode-se estar simplesmente em situação de querer fazer algo, isto é, de ter vontade de fazê-lo, sem que se seja propriamente tentado a isso. A tentação dá nascimento ao desejo e à vontade de alguma coisa, mas diz respeito a querer fazer algo que seja errado sob algum código de conduta, algo passível de censura e que deve ser evitado, e se caracteriza pela veemência com que se impõe sobre a pessoa.

No Evangelho, a tentação é relacionada a fazer o mal ao próximo, ou a algo que contrarie a Lei de Deus quando se a desobedece mesmo sem causar prejuízo direto a outrem. Quando sabemos que o próprio Jesus foi tentado, não devemos nos preocupar com as tentações que podemos sofrer, mas, sim, em sabermos como enfrentá-las, seguindo o exemplo que Jesus nos deixou quando foi tentado no deserto. E contra elas a oração é fortificante, tanto que, na oração que ensinou, Jesus colocou o pedido para que Deus não nos deixe cair em tentação.

Todavia, por mais impensável que seja, há algo positivo na tentação, pois ela se insinua na pessoa de modo a que esta sinta a sua força e tenha tempo para resistir, tal como ocorreu com Jesus no deserto. De fato, assim como ele, a pessoa atacada por alguma tentação pode “dialogar” com ela, se quiser, e pode escapar da sua insídia se conseguir que seus valores morais a suplantem.

A vitória sobre a tentação é a vitória maior do homem para seu Deus, porque exsurge quando ele está fraco e atacado, mas, mesmo assim, consegue desenvencilhar-se dela!

Por Dr. Ricardo Mariz de Oliveira

Categories: Evangelho Semanal

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