A FÉ DO LEPROSO E A COMPAIXÃO DE JESUS – MARCOS 1,40-45

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Um leproso chegou perto de Jesus, e de joelhos pediu: “Se queres, tens o poder de curar-me”. Jesus, cheio de compaixão, estendeu a mão, tocou nele, e disse: “Eu quero: fica curado!” No mesmo instante a lepra desapareceu e ele ficou curado. Então Jesus o mandou logo embora, falando com firmeza: “Não contes nada disso a ninguém! Vai, mostra-te ao sacerdote e oferece, pela tua purificação, o que Moisés ordenou, como prova para eles!” Ele foi e começou a contar e a divulgar muito o fato. Por isso Jesus não podia mais entrar publicamente numa cidade: ficava fora, em lugares desertos. E de toda parte vinham procurá-lo.


No rápido texto do Evangelho de Marcos, que lemos neste domingo, encontramos a continuação dos episódios anteriores, primeiro o da pregação na sinagoga de Cafarnaum (Mc 1,21-28), depois o da cura da sogra de Pedro (Mc 1,29-39), tudo acompanhado de vários milagres e de expulsões de demônios.

Como vimos, depois disso Jesus deixou Cafarnaum para ir a outras localidades com vistas a nelas fazer o mesmo que lá fizera, e é o começo da sua peregrinação que hoje nos cabe ler, mas logo constatando que Jesus foi repetindo seus milagres a ponto de que “não podia mais entrar publicamente numa cidade: ficava fora, em lugares desertos. E de toda parte vinham procurá-lo”!

Um dos aspectos característicos do Evangelho de Marcos, também presente nos relatos sobre Cafarnaum, é a referência constante às multidões que se juntavam em torno de Jesus, ou que já ficavam a sua espera quando sabiam que ele se deslocava para algum lugar. E não adiantava Jesus ir para lugares desertos, pois sempre iam ao seu encontro.

Esse entusiasmo popular não nasceu por si, sem alguma razão concreta, assim como sempre há uma causa para alguém se tornar um ícone público. No caso de Jesus, a causa eram suas curas, seus exorcismos que eram formas especiais de cura de pessoas possuídas por demônios, e, principalmente, a pregação do bem que ele vinha desenvolvendo.

Note-se que estamos no início da vida pública de Jesus, mas, mesmo assim, ele já era alvo do fervor de todos, em todos os lugares por que ia passando! É que as notícias dos acontecimentos corriam rápidas entre as localidades, chegando a elas antes mesmo de Jesus estar lá.

Porém, não era um entusiasmo passageiro, que poderia ter-se dissipado após a passagem de Jesus e depois de terem satisfeito sua curiosidade ou suas necessidades. Em outras partes da narrativa da vida de Jesus, vamos encontrar situações em que muita gente se reunia em torno dele em lugares ermos e longínquos, e essa gente não queria deixá-lo mesmo ao final do dia.

A causa desse fenômeno era a atitude caridosa de Jesus, curando e pregando o bem. É que todos estavam cansados das perorações dos seus líderes religiosos, com suas infindáveis imposições que sentiam ser despropositadas. Agora, com Jesus, ouviam alguém que lhes falava com autoridade sobre o amor a Deus e ao próximo, de um modo simples e que fazia sentido. E presenciavam sua superioridade quando viam o que realizava com os enfermos e os possuídos.

Contudo, havia algo mais nas atitudes de Jesus, algo que cativa qualquer pessoa de bem, e algo que é reconhecido mesmo quando se apresenta por si e sem qualquer alarido, sendo perceptível por sua simples existência.

Era o amor ao próximo, que Jesus manifestava em todos aqueles atos, que tinham origem não no desejo de se tornar líder do povo ou de se contrapor às chefias políticas e religiosas de Israel ou de Roma, mas tão-somente na vontade de servir gratuitamente a tantos quantos dele precisassem. 

No episódio que hoje lemos, o amor de Jesus está manifestado na compaixão pelo leproso, que se introduziu na multidão de gente que se acercava dele cheia de fé, e que foi curado não apenas porque Jesus tinha o poder de curar, mas porque teve compaixão: “Jesus, cheio de compaixão, estendeu a mão, tocou nele, e disse: ‘Eu quero: fica curado!’”. Ou seja, Jesus quis curar porque sentiu compaixão, a mesma que moveu todos os seus atos até quando foi levado para a cruz. Paixão é sofrimento, e (com)paixão é sofrer junto com outrem, sofrer o sofrimento deste.

Imagine-se a cena toda, e como as pessoas devem ter reagido ao acontecimento em que o leproso, que era expulso do convívio social, se atreveu a chegar junto de Jesus e ajoelhar-se à sua frente, sendo tocado por ele: “Um leproso chegou perto de Jesus, e de joelhos pediu: ‘Se queres, tens o poder de curar-me’. Jesus, cheio de compaixão, estendeu a mão, tocou nele, e disse: ‘Eu quero: fica curado!’ No mesmo instante a lepra desapareceu e ele ficou curado”.

Esse leproso, ciente da repulsa que causava, não esperava qualquer contato físico com Jesus, e pede apenas que ele queira curá-lo, pois tinha fé de que bastava a vontade de Jesus. Todavia, Jesus amantíssimo fez o que ninguém faria, pois “estendeu a mão, tocou nele” e o curou!

Explica-se assim por que até hoje há multidões no caminho deixado por Jesus de Nazaré!

Por Dr. Ricardo Mariz de Oliveira

Categories: Evangelho Semanal

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