CORREÇÃO FRATERNA – ORAÇÃO EM COMUM – MATEUS 18,15-20

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Jesus disse a seus discípulos: “Se o teu irmão pecar contra ti, vai corrigi-lo, mas em particular, a sós contigo! Se ele te ouvir, tu ganhaste o teu irmão. Se ele não te ouvir, toma contigo mais uma ou duas pessoas, para que toda a questão seja decidida sob a palavra de duas ou três testemunhas. Se ele não vos der ouvido, dize-o à Igreja. Se nem mesmo à Igreja ele ouvir, seja tratado como se fosse um pagão ou um pecador público. Em verdade vos digo, tudo o que ligardes na terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra será desligado no céu. De novo eu vos digo: se dois de vós estiverem de acordo na terra sobre qualquer coisa que quiserem pedir, isso lhes será concedido por meu Pai que está nos céus. Pois, onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estarei aí, no meio deles”.


Desde o início da sua pregação, Jesus ensinou que Deus é Pai e, como qualquer pai bondoso, ama seus filhos e quer que estes se amem e vivam em paz.

Por consequência, todo e qualquer homem é filho desse mesmo Pai, ou seja, todos somos irmãos de um único Pai. Do mesmo modo que irmãos de sangue têm semelhanças, mas não são iguais, cada um de nós é semelhante aos demais homens em suas características gerais, mas nos distinguimos de todos por aquelas que são somente nossas. É isto que faz com que tenhamos nossa identidade individual, assim como nossa feição facial e nossos trejeitos corporais nos distinguem de todos os demais homens que, não obstante, também têm cabeça com duas orelhas, dois olhos, um nariz no meio da face uma boca embaixo dele, assim como um corpo com dois braços e duas mãos, e duas pernas com dois pés.

Além da condição física, temos uma inteligência e temos nossas vontades, sendo certo que muitos outros terão as mesmas vontades, mas nem todos terão exatamente todas as mesmas vontades que temos. Nossa inteligência, que nos guia, e nossa capacidade de decidir, que deriva do atributo dado por nosso Pai, de escolhermos nossos caminhos, acabam por gerar atitudes distintas de cada um de nós perante os demais. Novamente nisto, muita gente assume atitudes iguais, mas certamente ninguém age sempre em igualdade com os outros.

Em vista disso, surgem os conflitos de vontades e de atitudes entre os homens, conflitos que muitas vezes são aumentados pela expectativa que temos de que os demais pensem como pensamos, queiram o que queremos e façam o que fazemos.

Tais conflitos podem manifestar-se apenas no íntimo de cada um, ou podem acabar por extravasar para atritos entre uma e outra pessoa, ou entre mais de duas, mas o que o Pai espera é que sejam superados o mais rapidamente possível. Ele não espera que inexistam conflitos, pois sua sabedoria não desconhece a natureza humana dada por Ele mesmo a todos nós. Mas quer que, pela boa-vontade de todos, prevaleça a paz através da concórdia quando houver discórdias.

Entretanto, a discórdia somente será superada se, antes da pacificação dos espíritos e da paz exterior, houver o perdão, não apenas o perdão de uma das pessoas que discordaram, mas de todas, reciprocamente, de cada uma para a demais, pois, se estiverem de boa-fé, muito possivelmente todas ter-se-ão sentidas ofendidas. Por isso, de nada valerá a disposição para o perdão, em uma das pessoas, se ela não estiver disposta a aceitar que também poderá ter contribuído para o desencontro, e que, se este for o caso, para haver a paz também deve se arrepender. Ou que, mesmo não tendo dado causa ao conflito, deve estar disposta a admitir que, quem sinta ter sido ofendido, espera uma atitude de contrição. Portanto, além do perdão a outrem, é preciso o arrependimento interno e sincero pela culpa que se possa ter na altercação ou por involuntariamente ter contribuído para ela.

Enfim, a paz demanda muita humildade, muita tolerância e muita paciência!

É isto o que nos ensina o trecho do Evangelho de hoje, no qual devemos observar a insistência como Jesus se refere às tentativas que se deve fazer para finalizar uma agressão praticada ou recebida. Assim, aquele que se sinta ofendido não pode se contentar com uma só ação, pois deve prosseguir nas tentativas para que o ofensor acabe por aceitar ter dado causa à ofensa e se arrependa disso.

E Jesus conclama a que, para tal fim, se recorra até a Igreja, que pode servir de mediadora, como dois ou mais amigos comuns também podem sê-lo, e cujo conselho deve ser admitido como bom e ser seguido produzindo o desarme dos espíritos, intimamente e na relação entre os que foram contendores.

Jesus coloca tanto valor nessa justa intromissão da Igreja, quer a instituída formalmente, quer a formada por dois ou três amigos, que renova a sua declaração de que o que for ligado na terra será ligado no céu, ou seja, o perdão que reúne os divergentes em sua vida terrena também será válido perante o Pai. Isto porque, como ele arrematou: “De novo eu vos digo: se dois de vós estiverem de acordo na terra sobre qualquer coisa que quiserem pedir, isso lhes será concedido por meu Pai que está nos céus. Pois, onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estarei aí, no meio deles”

Eis aí o dever da correção fraterna, não apenas entre os que travam ou travaram disputas, mas também dos que devem intervir para a pacificação. E eis aí o poder da oração ao Pai, que deverá iluminar os espíritos dos briguentos e dos pacificadores, todos eles pedindo a proteção divina para suas ações.

Por fim, tal atitude é um dever derivado da fraternidade advinda da paternidade divina, e é condição para a salvação de todos.

Por Dr. Ricardo Mariz de Oliveira

Categories: Evangelho Semanal

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