UMA REFLEXÃO NO NATAL DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO

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No Evangelho segundo Lucas lemos, já quando se aproximava a prisão de Jesus Cristo: “Chegando a hora, Jesus foi para a mesa com os apóstolos e lhes disse: ‘Desejei ardentemente comer esta Páscoa convosco antes de sofrer, porque eu não vou mais comer dela, até que se realize plenamente no Reino de Deus’. Tomou então um cálice, deu graças e disse: ‘Tomai-o e passai entre vós. Porque eu vos digo: de agora em diante não beberei mais do fruto da vinha até que chegue o Reino de Deus’. Depois, tomou o pão e deu graças. Então o partiu e deu-lhes, dizendo: ‘Isto é o meu corpo, que é dado por vós. Fazei isto em minha memória’. No fim da ceia, fez o mesmo com o cálice dizendo: ‘Este cálice é a nova Aliança do meu sangue, que é derramado por vós’”.

Mas, se estamos comemorando festivamente o nascimento do filho de Maria, por que trazer à lembrança uma narrativa do final da sua vida terrena? Porque lembrar de um momento no qual aquele menininho do presépio já crescera, já passara por tantos acontecimentos mais felizes e agora estava próximo de sofrer barbaramente até falecer na cruz?

A resposta é simples: porque os dois momentos estão entrelaçados por dois milagres exponenciais, eis que o seu nascimento foi um milagre, e a instituição da eucaristia outro milagre. É certo que Jesus fez inúmeros milagres, todos admiráveis e possíveis somente a Deus, mas os milagres do seu nascimento e da eucaristia cobrem todos os demais, e estão intimamente ligados por um determinado laço que não existe nos outros. Os demais dependeram do primeiro e não do último, mas o primeiro e o último têm um significado comum que os projeta para a perpetuidade.

Esse laço que os une é a proximidade física entre Deus e os homens, com sua razão de ser.

De fato, Deus vir à terra como homem foi um milagre, que começou quando Maria foi fecundada pelo Espírito Santo, e, foi milagre único porque em nenhuma outra crença um deus veio se juntar aos seus homens.

Todavia, por que o Deus cristão veio estar junto aos homens? Certamente não por inveja das suas criaturas, ou para dar um passeio pela terra. Foi, sim, para que a humanidade, através da palavra viva de Jesus e das suas atitudes, melhor entendesse a sua Lei, a lei do amor, que estava esquecida e escurecida por práticas secundárias que muitas vezes chegavam a contrariá-la. E também para que os homens ficassem para sempre mais propensos a entender e visualizar como Deus verdadeiramente é.

Realmente, Deus é invisível e, como disse São Paulo escrevendo para os Colossenses, “Cristo é a imagem do Deus invisível” (Cl 1,15), mas Ele é o que falou e o que fez neste mundo, onde se apresentou como pessoa humana, falou e fez como um homem existente e visível, possuidor de um nome de gente comum, podendo, pois, ser mais facilmente lembrado, imitado e chamado por esse nome que antes não tinha.

Como passou a ser fácil conhecer Deus depois de Jesus! Como é fácil chamá-lo por seu nome! Como passou a ser mais fácil crer na existência de Deus, sem ser necessário crer no Ser Supremo fora do alcance dos sentidos humanos! É por isso que tantas vezes se invoca o nome de Jesus, ao invés do nome de Deus, e se pode vê-lo como um de nós através das reproduções da sua imagem facial e corporal que chegaram até nós desde seus primeiros seguidores.

Em outras palavras, Deus se fez mais presente na vida da humanidade através de Jesus, assim como através dele se fez mais sensível a todos os homens em todos os tempos posteriores à sua passagem por este mundo.

Pois tudo começou quando ele nasceu naquela noite fria de Belém, e não teria ocorrido nem continuado a ocorrer se ele não tivesse nascido do seio de Maria!

E a enorme graça advinda desse primeiro milagre, o milagre do seu nascimento, não poderia terminar enquanto houver homens neste mundo.

Assim, foi para que se perpetuasse o milagre e os benefícios que seu nascimento trouxe com a aproximação física entre Deus e suas criaturas, que Jesus, antes do seu corpo morrer, instituiu a eucaristia, com a qual não limitou aquele contato físico iniciado no seu nascimento apenas aos que viveram com ele neste mundo.

Quando ele, após transubstanciar o seu corpo no pão e o seu sangue no vinho, pediu para que continuassem a fazer o mesmo em sua memória, não foi para que ele fosse homenageado no futuro, mas, sim, para que todos os homens que vieram depois do Calvário pudessem ter a mesma graça dos que haviam vivido no seu tempo de vida terrestre, isto é, pudessem ter a mesma proximidade física que aqueles tiveram com Deus Filho, mas agora por um modo diferente, próprio e misterioso, porque milagroso, advindo do segundo milagre que se uniu ao primeiro!

Quem crê em Jesus sabe que pode estar em contato espiritual constante com seu Espírito Santo, a terceira pessoa da Santíssima Trindade, mas sabe e sente que também pode acrescentar o contato físico recebendo a eucaristia, que chamamos “comunhão” porque realmente é a comunhão do crente com seu Deus!

Que o Menino Jesus seja sempre lembrado e amado por essas graças que legou a todo o seu povo, espalhado pelo mundo ao longo de séculos e séculos!

Por Dr. Ricardo Mariz de Oliveira

Categories: Evangelho Semanal

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