A PARÁBOLA DOS VITICULTORES HOMICIDAS

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Jesus disse aos sumos sacerdotes e aos anciãos do povo: “Escutai esta outra parábola: Certo proprietário plantou uma vinha, pôs uma cerca em volta, fez nela um lagar para esmagar as uvas, e construiu uma torre de guarda. Depois, arrendou a vinha a vinhateiros, e viajou para o estrangeiro. Quando chegou o tempo da colheita, o proprietário mandou seus empregados aos vinhateiros para receber seus frutos. Os vinhateiros, porém, agarraram os empregados, espancaram a um, mataram a outro, e ao terceiro apedrejaram. O proprietário mandou de novo outros empregados, em maior número do que os primeiros. Mas eles os trataram da mesma forma. Finalmente, o proprietário enviou-lhes o seu filho, pensando: ‘Ao meu filho eles vão respeitar’. Os vinhateiros, porém, ao verem o filho, disseram entre si: ‘Este é o herdeiro. Vinde, vamos matá-lo e tomar posse da sua herança!’ Então agarraram o filho, jogaram-no para fora da vinha e o mataram. Pois bem, quando o dono da vinha voltar, o que fará com os vinhateiros?” Os sumos sacerdotes e os anciãos do povo responderam: “Com certeza mandará matar de modo violento esses perversos e arrendará a vinha a outros vinhateiros, que lhe entregarão os frutos no tempo certo”. Então Jesus lhes disse: “Vós nunca lestes nas Escrituras: ‘A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular; isto foi feito pelo Senhor e é maravilhoso aos nossos olhos’? Por isso, eu vos digo: o Reino de Deus vos será tirado e será entregue a um povo que produzirá frutos”.


Como no episódio do domingo passado, Jesus continuou falando com os sacerdotes e os anciãos do povo. Mas, se antes ele começara pedindo a opinião dele – “Que vos parece?” – agora começou empregando outro tom mais imperioso: “Escutai esta outra parábola”, ainda que também os tenha levado a responder o que o dono da vinha faria com os maus vinhateiros.

De fato, este foi um dos ataques mais frontais de Jesus aos que no seu tempo eram os chefes políticos e religiosos de Israel, e agiu assim em virtude do comportamento que eles mantinham na direção do povo, em grande descompasso com a Lei de Deus.

Jesus tinha razão em sua severidade, pois, além de tantas tentativas que fizera para lhes abrir os olhos, já no tempo do profeta Isaias ocorriam os mesmos desvios! Nas escrituras sagradas, “a vinha do Senhor é a casa de Israel” (Sl 79), e Isaias socorreu-se dessa alegoria para admoestar as chefias da sua época, mostrando-lhes que o Senhor retirara o povo judeu do Egito, o protegera durante quarenta anos no deserto, até colocá-lo nas terras de Israel para que lá cultivasse sua palavra passada por seus profetas.

Esse trecho do Livro de Isaias (Is 5,1-7) tem semelhanças com a parábola de Jesus, pois alude ao proprietário que plantou videiras em encosta fértil e construiu uma torre e um lagar, mas que somente obteve uvas azedas. Isaias lança, então, um grito de protesto e advertência, dizendo: “Pois bem, a vinha do Senhor dos exércitos é a casa de Israel, e o povo de Judá, sua dileta plantação; eu esperava deles frutos de justiça – e eis a injustiça; esperava obras de bondade – e eis iniquidade”.

Pois seis séculos depois, aqueles homens que se consideravam doutores da Lei continuavam fazendo o mesmo que Isaias condenara, levando o povo a incorrer nos mesmos erros, como que subtraindo das Escrituras a advertência do profeta.

Por isso Jesus estava justamente indignado com eles, e os atacou a partir da mesma imagem adotada por Isaias, que eles bem conheciam, mostrando como haviam se comportado com os profetas de Deus, até chegar ao seu momento, o momento em que o Senhor enviou seu próprio Filho para ensiná-los e tentar recuperá-los. E Jesus foi mais adiante, antecipando que eles fariam o mesmo que os vinhateiros da parábola, ou, seja, tais como estes mataram o filho do proprietário da vinha, eles iriam matar o Filho do Senhor. Seriam eles que rejeitariam a pedra angular, sem a qual a construção vai à ruína!

Porém, se Isaias mostrara algum desalento com seu povo e seus condutores, Jesus não deixou-se abater pelo desânimo nem abandonou o povo a que pertencia, pois foi peremptório: “Por isso, eu vos digo: o Reino de Deus vos será tirado e será entregue a um povo que produzirá frutos”.

Isto é, Jesus entregou seu Reino a “um novo povo de Deus”, o povo de qualquer nação, etnia ou origem, o povo disposto a produzir bons frutos, não mais as uvas amargas mencionadas por Isaias.

E esse povo, que é o povo cristão, especialmente o povo da sua Igreja, não pode deixar a história se repetir, quer dizer, não pode continuar a praticar injustiças e iniquidades, como se fazia no tempo de Isaias e no tempo de Jesus. 

Pelo contrário, como o tempo de Jesus se estende até o final dos tempos, seu povo, para merecer esse título e não incorrer nos mesmos erros, tem que produzir os frutos da justiça e das obras de bondade, enfim, os frutos da caridade, a qual nada mais é do que o amor ao próximo, sem exceção. Todavia, não deve apenas proclamar tais frutos recitando o mandamento de Deus, e, sim, praticá-los efetivamente em todos os dias de todos os tempos.

O que nos dá esperança é que o Reino de Deus vai se insinuando aos poucos, como a semente lançada em terra fértil, e Jesus nos disse que seu Evangelho será pregado no mundo inteiro (Mt 24,14).

Por Dr. Ricardo Mariz de Oliveira

Categories: Evangelho Semanal

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