CARREGAR A CRUZ, TAL COMO JESUS CARREGOU – Lucas 9,18-2

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CARREGAR A CRUZ, TAL COMO JESUS CARREGOU

Certo dia Jesus estava rezando num lugar retirado, e os discípulos estavam com ele. Então Jesus perguntou-lhes: “Quem diz o povo que eu sou?” Eles responderam: “Uns dizem que és João Batista; outros, que és Elias; mas outros acham que és algum dos antigos profetas que ressuscitou”. Mas Jesus perguntou: “E vós, quem dizeis que eu sou?” Pedro respondeu: “O Cristo de Deus”. Mas Jesus proibiu-lhes severamente que contassem isso a alguém. E acrescentou: “O Filho do Homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e doutores da Lei, deve ser morto e ressuscitar no terceiro dia”. Depois Jesus disse a todos: “Se alguém quiser me seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia, e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim, esse a salvará”.

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No dia em que ouviu de Pedro a sua profissão de fé de que Jesus era o Cristo de Deus, a fé maior que ele poderia ter esperado da sua gente, Jesus falou em cada um tomar a sua cruz e segui-lo, como modo de se salvar para a vida eterna.

Falando assim, deve ter causado espanto porque, para os judeus do tempo de Jesus, a cruz não tinha o significado que tem para nós cristãos, pois vemos nela o símbolo do amor de Deus pelos homens e o exemplo máximo desse amor praticado por Jesus Cristo à custa de muito sofrimento. Todavia, no modo de execução praticado pelos romanos naquele tempo, a cruz era símbolo de opróbrio na condenação à morte, reservada para os bandidos e inimigos, mais severa do que era a lapidação entre os judeus e depois veio a ser a forca e a cadeira elétrica.

Assim, falando em cruz naquele momento, Jesus invocou uma imagem de sofrimento e vergonha, mas, ao mesmo tempo, indiretamente falou sobre o modo de morte a que iria submetido, com dor e vexação por amor ao mundo. Com isso, permitiu que os apóstolos e discípulos mais tarde, após a crucificação, ligassem suas palavras e a imagem do patíbulo cruzado, para eles horrorosa, ao que depois ocorreu no Calvário e ao sentido desse acontecimento.

De fato, a cruz de Jesus foi uma cruz dolorosa, moral e fisicamente, mas motivada pelo amor ao próximo, e é esse tipo de cruz que ele recomendou aos seus seguidores quando lhes falou: “Se alguém quiser me seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia, e siga-me”.

Certamente Jesus não queria que sofressem morte de cruz, a despeito de que muitos mártires cristãos dos primeiros tempos tenham sido crucificados em Roma e em outros lugares, e a despeito de que depois muitos outros santos mártires tenham dado suas vidas por outros modos, mas em defesa ou em decorrência da sua crença.

Porém, o que Jesus desejava, de todos e de qualquer um, é que tomassem a cruz no sentido que a cruz de Jesus teve, isto é, ele convocou sua gente a segui-lo nesse caminho de amor ao próximo, ainda quando, para tanto, se tenha que renunciar ao seu próprio conforto, à sua própria comodidade, ao seu próprio interesse.

O que ele sempre quis é que todos nos amemos entre nós (que todos nos amemos mutuamente) pelo modo como ele nos amou (Jo13,31-35), e daí ele falar em tomar a cruz, não a cruz do sofrimento, mas a cruz da alegria e da caridade porque é a cruz do amor ao próximo. Daí o crucifixo ser para nós, cristãos, o símbolo da nossa fé.

É esta a renúncia a si próprio que ele pediu, a renúncia a si e ao que se pode estar querendo, para se poder dedicar a praticar algum ato de amor, qualquer que seja, mesmo com uma pequena ação. Pode até ser uma cruz que imponha algum sofrimento, pequeno ou grande, o qual, contudo, deve ser aceito para que prevaleça o bem, e sempre tomada com a confiança de que Jesus ajudará o sofredor a carregá-la.

E é tomar a “cruz cada dia” porque não é para ocorrer apenas esporadicamente, mas em todos os dias da vida, esta vida esplendorosa que recebemos de Deus, e que Ele nos mantém em cada segundo da nossa existência. Portanto, a retribuição mínima que podemos lhe dar por tamanho benefício é fazer o bem todos os dias, em cada momento de cada dia no qual se apresentar uma oportunidade para cuidar de alguém.

Enfim, é uma cruz leve, como ele mesmo mencionou ao dizer: “Vinde a mim, vós todos que estais oprimidos de trabalhos e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis repouso para vossas almas. Porque o meu jugo é suave, e o meu peso leve” Mt 11,25-30).

Por Dr. Ricardo Mariz de Oliveira 

Categories: Evangelho Semanal

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