A TRANSFIGURAÇÃO DE JESUS – MARCOS 9,2-10

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Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João e os levou sozinhos a um lugar à parte sobre uma alta montanha. E transfigurou-se diante deles. Suas roupas ficaram brilhantes e tão brancas como nenhuma lavadeira sobre a terra poderia alvejar. Apareceram-lhe Elias e Moisés, e estavam conversando com Jesus. Então Pedro tomou a palavra e disse a Jesus: “Mestre, é bom ficarmos aqui. Vamos fazer três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias”. Pedro não sabia o que dizer, pois estavam todos com muito medo. Então desceu uma nuvem e os encobriu com sua sombra. E da nuvem saiu uma voz: “Este é o meu Filho amado. Escutai-o!” E, de repente, olhando em volta, não viram mais ninguém, a não ser somente Jesus com eles. Ao descerem da montanha, Jesus ordenou que não contassem a ninguém o que tinham visto, até que o Filho do Homem tivesse ressuscitado dos mortos. Eles observaram esta ordem, mas comentavam entre si o que queria dizer “ressuscitar dos mortos”.


Quem lê e relê o Evangelho com atenção, percebe as diferenças entre os relatos dos quatro evangelistas, as quais se devem a muitas razões, mas principalmente a que cada autor conservou a memória dos fatos como pôde e ao seu modo, além de que a própria tradição oral em que eventualmente se baseou no todo ou em parte era uniforme quanto à essência dos acontecimentos e dos ditos de Jesus de Nazaré, mas impossível de ser idêntica nos detalhes. Ademais, todos os evangelistas se dedicaram a colocar por escrito o que ocorrera na Palestina, mas sem o intuito de relatar todos os fatos que envolveram o filho de Maria e José, assim como quiseram registrar o essencial dos seus ensinamentos, mas não necessariamente todas as passagens em particular e nos seus detalhes. Isto também concorreu para a distinções entre os evangelistas, mesmo porque cada um deles escreveu para uma comunidade distinta, para a qual viu interesses especiais numa ou noutra ocorrência, que eventualmente seria de menor importância para outro grupo, ou num ou noutro modo de relatar um mesmo fato.

A despeito disso, quando lemos o texto acima de Marcos e o comparamos com os de Mateus (Mt 17,1-9) e de Lucas (Lc 9,28-36), constatamos uma enorme igualdade nos relatos em torno da transfiguração de Jesus, os quais são quase que idênticos, em tudo e nos detalhes.

Como nenhum deles esteve no alto do monte em que ocorreu a transfiguração, evidentemente basearam-se nos testemunhos oculares de Pedro, João e Tiago, que haviam subido juntamente com Jesus. E a igualdade como escreveram sobre esse fato nos indica que os três que lá estiveram foram extraordinariamente impactados pelo que presenciaram, inclusive porque foram instados por Jesus a revelarem o que haviam presenciado somente após a sua ressurreição. Ou seja, eles conservaram a forte memória de tudo por bastante tempo, e a transmitiram aos seus companheiros com a fidelidade que transparece da igualdade dos relatos evangélicos.

Estas observações nos levam a concluir que a transfiguração foi um acontecimento ímpar, muito marcante para os apóstolos Pedro, João e Tiago, o que somente se explica porque Jesus, ao se transfigurar, quis se mostrar como é em sua pessoa divina, e não com a aparência humana que eles conheciam e a que estavam acostumados.

Nenhum dos evangelistas nos diz por que Jesus desejou se transfigurar e se mostrar conversando com profetas do passado, mas podemos entender razoavelmente que ele pretendeu dar mais uma prova de quem ele realmente era, além do homem que andava pela Galileia, e de que pessoas já falecidas para este mundo podem continuar com sua vida em outra realidade, a realidade junto a Deus.

Isto também nos explica por que ele determinou que os três apóstolos presentes somente contassem o que viram após sua ressurreição, dado que, sabedores desta, melhor entenderiam o que se passou no alto do monte, e seus ouvintes também aceitariam e compreenderiam mais facilmente seu relato.

Merece atenção o detalhe da proposta feita por Pedro a Jesus, para permanecerem lá em cima e ele construir três tendas, a qual nos demonstra o estado de espírito feliz que os três estavam vivenciando, certamente por estarem num ambiente diferente daquele em que viviam, e no qual podiam ver Jesus não como homem, mas como Deus. Esse detalhe serve para nos confirmar o que tantas vezes foi dito por Jesus, que a vida junto a Deus após a morte é repleta e de extrema felicidade, incomparável com qualquer alegria que podemos ter neste mundo. Dizem mesmo que a felicidade do céu consiste em poder contemplar a face de Deus, tal como contemplaram Pedro, Tiago e João.

Por Dr. Ricardo Mariz de Oliveira

Categories: Evangelho Semanal

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